A “cutucada” da crise pandêmica
Por natureza nós seres humanos somos acomodados, principalmente a partir da segunda metade do Século XX, e mais ainda no atual. As tecnologias, as facilidades em comprar, estudar, pesquisar, assistir filmes, aulas, conversar com amigos, e muito mais atividades, ficaram fáceis, confortáveis. Nem sequer precisamos sair do lugar. Viramos sedentários demais da conta. Só saímos do conforto quando a coisa aperta, asfixia, nos empurra para as soluções necessárias.
Eis que não mais que de repente nos chega a Covid-19, conhecidíssimo por coronavírus, para a tristeza da marca de cerveja – ou seria alegria? – e nos dá aquela dolorida cutucada que não só nos acorda, nos derruba abismo abaixo sem termos tempo para pensar, ou mesmo buscar um “aplicativo” que nos proteja. Nossos hábitos estão à prova de tudo. Da higiene ao convívio social, da inatividade mental para a buscar urgente da criatividade. Mexer-se virou necessidade vital.
Já disse em outro artigo que o mundo em que vivemos até março passado não existe mais. A primeira vista, com o retorno às atividades laborais, de lazer, familiares, parecerão iguais. Mas nada mais será igual após o coronavirus. Acredite. Não se deixe largar no sofá com o celular na mão esquerda, e o controle remoto na mão direita. Será preciso mais que ser um “consumidor” das tecnologias. Será preciso criatividade ao cubo, e mais solidariedade e trabalho em grupo.
Vimos que somos frágeis, muito frágeis. E isso não somente na parte física e emocional – achávamos que éramos invencíveis e muito fortes. O isolamento mostrou o contrário – mas também na economia. Em poucos dias o pânico tomou conta dos “mercados”, do comércio, da indústria, da agricultura, da cultura, tudo e todos. Como viveremos? Como teremos o dinheiro para comprar, pagar contas, funcionários, manter clientes? Eis aí o desafio.
O que poderá nos diferenciar a partir de agora? Como vamos manter as operações com o custo que tínhamos, margens de lucros, atendimento? De que forma continuaremos a vender, produzir, divulgar, ganhar corações e mentes e manter as pessoas e clientes mais próximos? Até que preço vamos querer pagar ao continuar como éramos, ou mudar radicalmente para ocupar um espaço na vida pós-pandemia? Para quem gosta, os Ps do marketing terão que ser revistos à exaustão. A economia mudou e mudará mais, principalmente para os pequenos e médios empresários.
Para você que é trabalhador, profissional autônomo, empreendedor individual, artista, produtor, e tantas outras profissões, também mudará. Aproveite que o dia a dia de sua atividade exige mudanças quase sempre para se recriar mais uma vez. Busque novos produtos, mercados, reinvente sua forma de atendimento e presença junto a quem você presta serviços ou venda produtos. Mostre que você o respeita e está antenado com as lições do coronavírus.
Bom exercício de criatividade para todos nós. A corona-cutucada veio para isso, mudar tudo e todos. Vamos aprender?
* Salvador Neto é empreendedor e jornalista acostumado a ter que se reiventar há muitos anos. Vai começar de novo…