Baú de Memórias #3 – Tinha um banco no meio do caminho
Vamos a outro capítulo da minha trajetória, na verdade uma passagem meteórica e relevante pelo conteúdo. Vamos lá?
Tinha um banco no meio do caminho
No capítulo anterior eu esqueci um trabalho meteórico que tive, e pulei direto para o escritório do seu Norberto Rudnick. Perdão pessoal, mas é que foi uma passagem rápida como um cometa, e dolorosa como dor de dente (que comparação…?!). Graças a uns amigos do futsal, que aliás eu jogava bem, consegui um emprego no Banco Mercantil de São Paulo. Auxiliar de escritório. Este sim, foi o meu primeiro emprego com carteira assinada, mesmo que fugaz.
Meu trabalho lá era pegar uma listagem gigante impressa naquelas folhas listradas de verde e branco – formulário contínuo… – onde estavam em tamanho minúsculo, nomes e números de documentos de cobrança. Chato pacas. Todos os dias entrava às 8h e saía às 14 horas. Bancário né, no tempo que empregos em bancos eram um status legal. Hoje em dia é só digital, caixa eletrônico, e pouquíssimos bancários em relação àquela época.
Tinha de andar arrumadinho. Calça de tergal, alinhada com aqueles vincos sabe (não sabe), camisa social, sapato preto brilhosão, cinto, essas coisas. Cabelo, claro, cortadinho… Na época eu tinha para cortar, e usava até gel para manter os fios alinhados. Eram tempos de economia em crise (novidade no Brasil né), 1987. Minha passagem no Mercapaulo não durou três meses. Nem a experiência! Já conto.
Preguiçoso? Vadio? Nada disso… Naquela época greves eram o que mais aconteciam no país recém saído da ditadura. Governo Sarney, inflação tão alta que os preços mudavam três vezes por dia. O povo com salários achatados, reaprendendo a gritar por direitos, parava mesmo. Os bancários então, fechavam agências com facilidade. Faziam piquetes, ninguém entrava para trabalhar sem discussão, empurra-empurra.
Jovem, querendo agarrar aquele trabalho, o primeiro com carteira assinada, tentei entrar para trabalhar. No primeiro dia, nada. No segundo idem, terceiro… Uma semana de greve. Saíram os piquetes, as faixas, podíamos voltar a trabalhar. Voltei até feliz para os meus formulários recheados de títulos para cobrança e protestos. Até que chamaram o novato para uma conversa.
Entregaram aquele papel. Aviso de demissão porque não havia comparecido ao trabalho, participado da greve. Nem tinha sequer parado em frente aos piquetes do sindicato, mas recebi um carimbo, o de demissão. Ficou a lição do lado. Sim, em qual lado você está entre o capital e o trabalho. Aprendi mais uma lição para a vida, e do lado que escolhi estou até hoje. Há coisas que não podem mudar, não mudam.
Voltei mais politizado ao Bar do Zeny, à limpeza do balcão, da calçada, dos copos, bater caixa no estoque, manter as bebidas geladas e a produzir sorvetes. Até que no início de 1988 fui aprender mais da vida com o seu Norberto Rudnick. O resto desta história vocês já leram na história anterior… Até a próxima!
Por Salvador Neto