Baú de Memórias – Do balcão de bar à comunicação
No mês de julho passado resolvi postar uma foto. Amigos começaram a pegar no meu pé, a questionar em quê eu estaria pensando. Eis que deu um estalo nesta cabeça rarefeita de cabelos: porque não contar a minha trajetória profissional? Aproveitar que estou pensando mesmo… Comecei a escrever as histórias, crônicas das passagens profissionais no meu perfil do Facebook. As pessoas gostaram! E agora quero publicar aqui no site todas elas para depois transformar, quem sabe, em livro físico, ebook, para motivar muitas pessoas que se sentem diminuídas por seus trabalhos.
Creio que ao contar o que já fiz para chegar até aqui, e nem cheguei a algum lugar (rs), posso dar alento a quem perde a motivação quando não vê seus sonhos realizados no tempo em que deseja. Vamos então ao primeiro capítulo? Aqui inclusive ele está mais robusto que lá no Facebook, segue o fio:
No Bar do Zeny
Hoje eu sou um profissional sênior na Comunicação, Gestão Estratégica de Projetos, Planejamento, Assessoria de Imprensa, mas também já fui um aprendiz. O balcão de bar do seu Zeny, meu pai, aos 15 anos de vida, foi minha escola de relacionamento público, atendimento, organização, controle, produção – sim, fui um sorveteiro – onde pude dar o meu primeiro passo no mundo do trabalho. Eram tempos de crise econômica, poucos empregos para experientes, imagine para um novato como eu. Quando existiam, a disputa era grande. Perdi vários deles.
Escrevo isso para motivar a quem pensa que não tem experiência por conta dos trabalhos que exerceu. É um engano, pois é aí que está a sua história… Não diminua o que a vida te deu, um aprendizado para sempre. Faça uma retrospectiva da sua vida, uma espécie de linha do tempo, para se perceber, e perceber também o quanto tudo foi importante na sua formação pessoal e profissional. A sociedade nos cobra status, carreiras perfeitas. Isso não é relevante, relevante é o que você faz com o que a vida te ensina.
No Bar do Zeny não tinha frescura não porque eu era filho. Todos os dias eu ficava das 8 da manhã às 18 horas atendendo. Entre um cliente e outro de pinga, cigarros, cerveja, doces, jogo do bicho, recebia mercadorias, vendedores, mantinha as geladeiras cheias, balcão limpo, varria a calçada e passava pano de vez em quando. Afinal, limpeza é fundamental em lugar que vende comida, etc. Meu pai ensinava sobre estoque, como cuidar das coisas, fazer as misturas das bebidas (rabo de galo, mentruz, losna, alecrim, butiá).
Quanto voltava das aulas à noite, ainda ia para o segundo tempo: fabricar sorvetes e picolés. Até fazer os seis baldes que cabiam no pequeno freezer da época, trabalhava até às 2 horas da madrugada. No outro dia, a rotina voltava. Atendi de pinguços profissionais à empresários com o mesmo problema, alcoolismo. Conheci gente com histórias brilhantes, e tinha paciência e carinho com os mais velhos que contavam suas histórias de vida, engraçadas, tristes, aprendizados que guardei para a vida.
Hoje entendo a importância que foi este meu primeiro trabalho. Aprender a ouvir, prestar atenção no outro, ser organizado, produzir o melhor possível, ter carinho no que se faz, ser dedicado, ter empatia. Podem até não acreditar, mas foram cinco ou seis anos em que trabalhei muito, foi meu laboratório para a vida que viria depois e eu sequer imaginava como seria. Me pai nunca pagou meu INSS, não tinha salário fixo. Quando precisava, pedia e chorava uma graninha, rsrs, e ele chorando, me dava. Foi assim que comecei minha trajetória.
Faça a sua linha do tempo. Assim descobrirá com atenção o que aprendeu e o quanto foi importante. E para quem está começando, aproveite todas as oportunidades, boas e ruins, para aprender. Um dia entenderás porque deves fazer tudo com dedicação e amor.
Por Salvador Neto.